Padre Luiz Augusto
Stefani, SMM, aos 57 anos de idade e 32 anos de sacerdócio foi escolhido como o
novo Superior Geral da Companhia de Maria (Missionários Monfortinos) em maio
deste ano.
Padre Luizinho como é
popularmente conhecido na Região Brasilândia, iniciou sua caminhada vocacional
na Paróquia Nossa Senhora do Retiro, em Pirituba. É Mestrado em Teologia
Espiritual pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Como missionário
monfortino o sacerdote realizou missões em várias partes do mundo, desde a
periferia da Região Brasilândia, onde aprendeu o caminho das comunidades
eclesiais de base (CEBs) na Paróquia
Santa Rosa de Lima, de Perus. Também ajudou na fundação de algumas casas
monfortinas em Minas Gerais: em João Monlevade e Contagem. Depois realizou
missões no Peru por três anos, e mais seis anos em Roma como ecônomo geral e Procurador-Geral
junto a Santa Sé. Em 2014 Padre Luizinho foi eleito Superior da Delegação Geral
Peru-Brasil dos Monfortinos, até que recebeu esta nova nomeação.
Em entrevista a jornalista
Renata Moraes, o sacerdote falou sobre os novos desafios e expectativas da nova
missão.
No último dia 11 de maio,
o senhor foi nomeado como novo Superior Geral da Companhia de Maria
(Missionários Monfortinos), como o senhor recebeu esta nomeação?
Padre Luizinho: Foi uma verdadeira
surpresa para mim. Eu não imaginava sair do Capítulo Geral Monfortino como
Superior Geral da Congregação. Recebi essa nomeação com amor e temor. Amor,
porque a eleição foi fruto de muita oração, dialogo e discernimento por parte
dos padres capitulares. Temor, porque se trata de uma atividade missionaria
cuja dimensão supera tudo aqui que fiz até hoje. Confio na promessa de Jesus:
“Estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”.
Quais os principais
desafios em sua nova missão?
Acredito que exista um
único grande desafio: falar uma linguagem compreensível para todas as
diferentes culturas, dos diferentes países onde estamos em missão. Existem
algumas prioridades para serem trabalhadas nos próximos seis anos e essas
prioridades precisam ser assimiladas e encontrar respostas a partir de
realidades e culturas específicas.
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Padre Luizinho encontrou-se com o Papa Francisco após sua nomeação.
Ainda participando do
Capítulo Geral da Companhia de Maria, o senhor esteve com o Papa Francisco,
quais as principais questões que foram tratadas e qual foi a mensagem do Santo
Padre para todos os missionários monfortinos?
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O diálogo com o Papa
Francisco no dia 17 de maio, apesar de ter sido muito rápido, não deixou de ser
profundo. Fundamentalmente foram duas as questões principais. A primeira foi a
de apresentar a Companhia de Maria como aliada missionaria no projeto da Igreja
de hoje. Disse ao Papa Francisco o quanto o queremos bem e como os seus
escritos, as suas palavras trazem um ânimo novo para o mundo de hoje. A segunda
questão foi a de apresentar ao Papa a preocupação dos Monfortinos com os
incontáveis grupos que promovem a Consagração a Jesus por Maria proposta por
São Luís Maria de Montfort, que divulgam os seus escritos, mas interpretam de
modo equivocado o sentido da mensagem do nosso santo fundador para os dias de
hoje.
Hoje a Companhia de Maria
está presente em mais de 25 países, qual o número aproximado de padres e
missionários em todo o mundo?
No mundo todo somos por
volta de 800 religiosos, padres e irmãos, espalhados nos cinco continentes.
A exemplo de vosso
fundador São Luis Maria Grignon de Montfort, a Companhia de Maria segue a
paixão por Cristo, por Maria, pelos pobres e pelas missões, como os
missionários desenvolvem as novas vocações dentro da Congregação?
O motivo da existência da
Companhia de Maria, Missionários Monfortinos, é a missão. A nossa missão é
evangelizar. A missão da nossa Congregação é estar unida à missão de toda a
Igreja. Mas temos o nosso jeito próprio: vamos às periferias do mundo, com um
estilo “monfortino” de fazer missão. O nosso jeito é muito parecido ao que no
Brasil chamamos de “missões populares”. Os pobres, preferidos de Deus, são os
nossos preferidos também. Somos uma Congregação internacional, quer dizer, os
religiosos de hoje e de amanhã vivemos ao “sopro do Espírito Santo” e estamos
livres para ir lá onde o Espírito enviar. Portanto, as novas vocações que estão
chegando á Companhia de Maria são daquele tipo de jovem que querem arriscar
tudo por causa de Jesus Cristo.
Em 2016, foram celebrados
os 50 anos da presença monfortina no Brasil, que atualmente está presente em
São Paulo e em Minas Gerais, como aconteceu a chegada desses missionários em
nosso país, e os principais frutos dessa missão, sobretudo na Região
Brasilândia.
A chegada dos Monfortinos no Brasil não foi bem uma “chegada”,
digamos que os primeiros monfortinos foram “chegando”. A pergunta nos faz mexer
no baú da história, vasculhar a memória e recuperar aquilo que “nossos pais nos
contaram”.
Vale a pena recuperar o contexto eclesial da época: a Igreja vivia
o frescor do sopro do Espírito Santo, se estava concluindo o Concílio Vaticano
II. O Papa Paulo VI pediu que todas Congregações religiosas olhassem
missionariamente para fora da Europa. A Casa Geral do Monfortinos começou a
receber pedidos de todos os lados pedindo missionários.
Um dos pedidos foi do então Cardeal de São Paulo, Dom Agnelo
Rossi; a cidade precisava de missionários nas periferias e era um pedido de
urgência. O pedido da Congregação foi enviado para os monfortinos da Holanda;
naquela época a Província Monfortina holandesa tinha muitos sacerdotes e irmãos
e já tinha enviado missionários para a Indonésia, Colômbia, Portugal e
Moçambique.
Coincidentemente, o convite para enviar missionários para São
Paulo chegou quando a situação em Moçambique estava se complicando
politicamente, vários monfortinos foram expulsos e tiveram que abandonar o
país. Foi então que, a partir do início de 1966, os monfortinos foram
“chegando”. Chegaram os padres Guilherme Kuypers e Carlos Knibbeler, para uma
primeira visita, para saber o que significaria a “periferia” de São Paulo.
Seguindo os conselhos do Vigário Geral da época, decidiram preparar o caminho
para ir a Perus. Em outubro do mesmo ano, 1966, foram chegando a Perus os
primeiros missionários monfortinos holandeses: Irmão Bento e o Pe. Guilherme
Kuypers. Pouco a pouco foram chegando outros padres, um grupo ficou em Perus e
um outro foi para a Diocese de Lins, interior de São Paulo.
Com a divisão da Arquidiocese de São Paulo em regiões episcopais,
pelo Cardeal Dom Agnelo Rossi, os monfortinos estavam na então Região Episcopal
da Lapa. Foi em 1989 que Perus passou a pertencer à “caçula” Região Episcopal
Brasilândia, tendo como Vigário Episcopal Dom Angélico Sândalo Bernardino.
Fale um pouco de sua
biografia, os principais lugares que o senhor atuou em missão (inclusive a
última missão como Superior da Delegação Brasil – Peru).
Nasci aqui na capital de
São Paulo, na Vila Mirante, Pirituba. Meus pais, Jordão e Amélia, vieram do
interior de São Paulo, Santa Rita do Passa-Quatro e Porto Ferreira. Sou o
quarto filho de uma família de seis irmãos, os melhores irmãos do mundo.
Minha paróquia, Nossa
Senhora do Retiro, me ajudou e me viu crescer na fé.
Fui formado como
catequista na escola espiritual do senhor José Joaquim, fundador do Instituto
Secular Catequistas de São José, santo homem. Tive grandes catequistas, dentre
eles o senhor Mario Afonso, outro santo homem.
Em 1979 iniciei a minha
caminhada de formação com os Missionários Monfortinos e estudei Filosofia no
Mosteiro de São Bento, de São Paulo. O noviciado foi na Colômbia e a teologia
foi no ITESP – Instituto Teológico São Paulo.
Em 1985 fui ordenado
diácono e sacerdote na mesma paróquia Nossa Senhora do Retiro. Aprendi o
caminho das comunidades eclesiais de base na paróquia Santa Rosa de Lima, de
Perus.
A partir de 1988 continuei
a minha caminhada internacional: fui estudar Teologia Espiritual na Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma. Em 1993 ajudei na fundação
de algumas casas monfortinas em Minas Gerais: em João Monlevade e Contagem.
Depois foram missões no
Peru por três anos, mais seis anos em Roma: ecônomo geral, Procurador-Geral
junto à Santa Sé. Quando voltei para o Brasil em 2011 e pensei ficar quietinho
na Paróquia Santa Rosa de Lima de Perus, como pároco, fui eleito Superior da
Delegação Geral Peru-Brasil.
Resumidamente essa foi a
minha trajetória até agora. Deus seja louvado.
A partir do mês de agosto
vou morar em Roma, mas continuarei com as “rodinhas nos pés”, assim como desejou
São Luís Maria de Montfort dos seus missionários.
Aos jovens das nossas
comunidades, rapazes e moças, eu convido a olhar para a vida religiosa
missionaria como um caminho alegre de realização pessoal que os deixará
felizes, como eu sou feliz, e terão a possibilidade de fazer muitas pessoas
felizes ao receberam a alegre mensagem de Jesus Cristo.
Reportagem: Renata Moraes
Fotos: Arquivo pessoal Padre Luizinho