quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Mãe Aparecida: fé e esperança no rio Tietê

Imagem peregrina da Padroeira do Brasil foi acolhida por fiéis na ponte do Piqueri e levada em carreata para missa na Catedral da Sé

FOTOS: Luciney Martins
Renata Moraes
jornalismorenata@gmail.com


“Eu moro no bairro de Pinheiros. Acordei cedo, peguei o ônibus e vim até aqui em Pirituba expressar a minha fé em Nossa Senhora Aparecida. É ela que me dá forças, me sustenta, me concedesaúde e paciência. Todos os dias pela manhã, eu rezo o Terço para Nossa Senhora, agradecendo todas as graças que ela me dá diariamente, sobretudo na ajuda no cuidado com a minha sogra, de 93 anos”, expressou Norma Grolla Zuccari, 73, emocionada, durante a chegada da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida, na ponte do Piqueri, na zona Noroeste de São Paulo.Na segunda-feira, 12, em que se comemorou o Dia de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, a Arquidiocese de São Paulo realizou a 12ª edição do projeto “Tietê Esperança Aparecida”, com a peregrinação da imagem de Nossa Senhora Aparecida pelas águas do rio Tietê.O projeto teve início em 2004, por iniciativa do Padre Palmiro Carlos Paes, atual administrador paroquial na Paróquia Santa Cristina, na Região Ipiranga, motivado pela Campanha da Fraternidade daquele ano “Fraternidade e Água – Água fonte de vida”, com o objetivo de expressar a fé em Nossa Senhora e conscientizar a população e as autoridades sobre a importância da despoluição do rio Tietê. Neste ano, as atividades começaram em 25 de setembro, com a realização de missa no Santuário de Aparecida, seguida da peregrinação da imagem de Nossa Senhora até a nascente do rio, em Salesópolis (SP). No dia 12, a imagem peregrina foi levada em uma pequena embarcação pelas águas do rio Tietê, partindo da Barragem da Penha, às 7h30, e chegando à ponte do Piqueri, às 9h, onde era aguardada por centenas de devotos. Na chegada, Padre Palmiro a entregou a Dom Devair Araújo da Fonseca, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia. Após dar a bênção sobre as águas do rio, o Bispo conduziu a imagem em procissão no meio das pessoas que estavam na Ponte.
  
‘Há vida e esperança no rio Tietê 
 Padre Palmiro, em entrevista ao O SÃO PAULO, relatou o que viu durante a procissão pluvial. “Navegando pelo rio Tietê, desde as 7h, vimos uma imagem triste, mas, ao mesmo tempo, se percebe uma luta, ainda devagar, para despoluir o Tietê. Jogados no rio, havia sofás, peças de carro, de motos, geladeira e muito lixo, mas também há vida e esperança: alguns animais ali sobrevivem como aves e garças. Vimos até três capivaras bebendo daquela água, tentando sobreviver. Encontramos, também, pessoas tomando banho nas barrancas do Tietê, dos córregos poluídos”. Segundo o Sacerdote, é importante lembrar todos os anos as autoridades de que o rio precisa ser despoluído, e a despoluição do Tietê somente se dará com muita perseverança de todos. O projeto “Tietê Esperança Aparecida” tem apoio do Departamento deÁguas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE). “Temos que voltar a ver o rio Tietê como presente de Deus e não só como esgoto da cidade”, expressou Padre Palmiro.


Em sintonia com a 'Laudato si’
O apelo do Papa Francisco no cuidado com o meio ambiente, direcionado a todos, na carta encíclica Laudato si’, vem ao encontro da proposta do projeto “Tietê Esperança Aparecida”, conforme analisou Dom Devair. “A casa comum é o meio ambiente. Assim o Papa Francisco nos convida a refletir como é que estamos cuidando da nossa casa? A Laudato si’ desperta em nós esse desejo do cuidado, mas também do compromisso, de cada um fazer a sua parte para despoluir o rio”, disse à reportagem.

A expressão de fé dos devotos da Mãe Aparecida
Durante a carreata em que a imagem foi conduzida da ponte do Piqueri à Catedral da Sé, muitos fiéis expressaram a devoção a Nossa Senhora Aparecida.“Vimos pessoas em situação de rua, olhando para a imagem, como quem diz:‘Mãe, olha para mim, veja minha situação e meu sofrimento’. Assim como um senhor que se ajoelhou na calçada, enquanto a imagem passava”, relatou Padre Palmiro. Dom Devair presidiu a missa solene na Catedral da Sé, na primeira participação no Projeto “Tietê Esperança Aparecida”. O Bispo relatou essa vivência com ao povo. “Uma expressão genuína, autêntica, da fé do nosso povo. Na confiança, aos pés de Maria, eles depositavam suas preces. O Documento de Aparecida nos fala que nas expressões populares da fé, existe um lugar de encontro com Cristo.E Maria, neste dia, nos fez encontrar-se com Ele". 



Nas Crianças, o futuro do Tietê
Dom Devair, no encerramento da missa, convidou as crianças a subirem no presbitério para receberem uma bênção especial. “Iluminados pelas palavras de Maria, ‘Fazei tudo que Ele vos disser’, que desperte no coração de todos nós o desejo do compromisso e da transformação. "Que um dia essas crianças que aqui estão possam olhar para o rio Tietê e dizer: hoje nós vimos a vida desse rio. Que o nosso compromisso seja também com essas crianças, com o futuro e com o mundo que vamos deixar para elas”. E finalizou: “que um dia, possamos celebrar a despoluição do rio, como fruto da nossa oração e do nosso trabalho”.


Reportagem publicada no Jornal O SÃO PAULO edição 3073 de 14 a 20 de Outubro de 2015

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